quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A Perda da Tecnologia

Em um futuro não muito distante talvez tenhamos que lidar com a perda do controle do conjunto de técnicas dominadas pela humanidade.

Por exemplo, algum tempo atrás um fotógrafo dominava todo o processo da fotografia propriamente dita, ou seja, ele sabia como a câmera era construída, preparava sua própria emulsão, revelava suas chapas, etc. Todo o processo necessário para se obter uma foto era de domínio de qualquer fotógrafo. Nos dias atuais a técnica foi terceirizada, esse foi o primeiro passo. A mesma técnica usada, no nosso exemplo, pelo fotógrafo passou a ser de domínio de poucas organizações ou grupos empresariais. Uma vez que esses grupos agora possuem as técnicas iniciais elas foram se aperfeiçoando e a técnica que antes podia ser dominada por uma única pessoa, agora é tão complexa que necessita de um grupo grande de pessoas com especializações diversas, que dominam apenas parte do conhecimento. Esse foi o segundo passo, a impossibilidade do indivíduo dominar por si a técnica. A técnica se torna abstrata. O terceiro passo foi a internacionalização dessas empresas, uma vez que os processos de fabricação extrapolam as fronteiras nacionais o conhecimento se torna pulverizado.

Quem tem mais de trinta anos e já teve a curiosidade de abrir um rádio, sabe que antes era possível compreender, com um pouco de esforço, o que cada componente fazia e era possível até inverter o processo, ou seja, fazer engenharia reversa e obter outro rádio, se não igual, ao menos funcional.

Hoje isso já não é mais possível, nem mesmo para um excelente engenheiro. Onde eu quero chegar? Dentro de alguns anos e no ritmo atual de evolução, perderemos totalmente a possibilidade de entender por completo qualquer tecnologia, tecnologia essa da qual somos muito dependentes e ao mesmo tempo totalmente ignorantes. Em caso de desiquilíbrios econômicos ou grandes tragédias é obvio o impacto da perda desse conhecimento, mas o que vejo é que mesmo não ocorrendo tais tragédias a perda do conhecimento humano é quase irreversível. Dependemos cada vez mais de tecnologias que são totalmente herméticas ao nosso saber e entendimento. Alguns anos atrás um jovem trancado em seu quarto foi capaz de revolucionar a informática com seu “computador pessoal”. Qual a possibilidade de que algo assim volte a acontecer? Provavelmente nenhuma, as máquinas atuais são de extrema complexidade e sua fabricação depende de conhecimento pulverizado e inacessível, somente grandes indústrias tem capacidade para lidar com a tecnologia.

O avanço tecnológico em si é bom, mas creio que devemos manter a tecnologia antiga ao menos funcional. Se antes a tecnologia era criada e compreendida por poucos, hoje nem um premiado com o Nobel é capaz se quer de reproduzir sozinho um simples rádio. Coisas importantes para as gerações futuras devem ser preservadas para que possam ser acessadas de forma simples. Quem sabe se daqui a cem anos será possível abrir um arquivo JPG? Mas uma foto revelada no processo antigo com certeza estará acessível em cem anos, o mesmo ocorre com outras coisas. Quem garante que eu conseguirei executar um MP3 em 2113? No entanto tenho certeza que um vinil ainda estará funcionando perfeitamente até lá.

Adotar o novo é necessário, mas como fazer isso sem ficar preso a algo que não conhecemos? Como fazer isso de modo que se possa preservar para as gerações futuras nossas histórias particulares como o papel, o filme e outros meios menos modernos tem feito por várias gerações? Afinal quem nunca perdeu coisas em seu HD?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Haikai

Haikais são poemas japoneses com estrutura rígida, quase matemática. Escritos em três linhas, sendo a primeira com cinco sílabas a segunda com sete e a ultima também com cinco sílabas, estes poemas tradicionalmente falam da natureza e das passagens das estações. São praticamente instantâneos em forma de poesia.

Tomei conhecimento deste tipo de poesia no livro “Estética da fotografia”, pois um haikai é de fato uma forma de fotografia, mas usando a linguagem escrita como meio de suporte. Achei muito bonito, pois sua rigidez torna essa arte muito difícil e ao mesmo tempo sua simplicidade, por ser tão resumida, torna essa arte delicada ainda mais bela.

Seguem alguns links:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Haikai
http://www.insite.com.br/rodrigo/poet/o_zen_e_a_arte_do_haikai.html
http://www.sumauma.net/artigos/artigo-rosa1.html

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Herdeiros de Aristóteles

Muito do discurso moderno é na verdade o mesmo discurso técnico-científico do início da revolução industrial e muito antes da própria revolução industrial já se pensava da forma compartimentada como é sustentado até os dias atuais. Como se todo o pensamento humano sempre fosse de uma forma e não a evolução de vários pensamentos e culturas que ao longo da história humana tem se desenvolvido de formas variadas. Ao se observar que muito do que era prometido pela ciência, pelo pensamento técnico-científico, simplesmente falhou ou não se concretizou. Podemos observar as ciências humanas e sabemos, não há consenso em nenhuma área humana. Hoje isso até pode parecer “normal”, mas devemos lembrar que já existiu consenso até mesmo na política e que esse consenso só foi possível com uma maneira não compartimentada de enxergar e avaliar os problemas que se apresentavam.

Nesse contexto achei esse um livro indispensável. Meu objetivo na filosofia sempre foi o de entender a relação do homem com o trabalho. Quando comecei a ler este livro achei que ele não seria exatamente o que eu queria, mas foi uma agradável surpresa, pois ele ajudou a preencher um vazio em meu pensamento, o período medieval e a filosofia escolástica que é sempre muito mal interpretada e até subestimada. Em “Herdeiros de Aristóteles” Richard E. Rubenstein vai a fundo neste período humano, a idade das trevas e mostra que na verdade a igreja, assim como mulçumanos e judeus, teve um papel fundamental em manter o conhecimento humano e mais que isso pensar e criar em cima desse conhecimento.

Informações do livro:

Herdeiros de Aristóteles
Richard E. Rubenstein
Editora Rocco
ISBN 85-325-1871-0

terça-feira, 26 de julho de 2011

Gasshuku

Gasshuku em japonês significa encontro, mas não apenas encontro, significa um tipo de retiro, onde cada praticante sai de seu meio convencional com o intuito de se aperfeiçoar. Pois bem, dito o significado vou contar minha experiência em meu primeiro Gasshuku. O Gasshuku em questão foi em Araras, um bairro de Petrópolis na região serrana do Rio. Para quem é praticante de Aikido, Jodo ou Iaido é um acontecimento que não deve ser perdido, mestre Shikanai e mestre Bento se revezaram nas aulas, sendo a parte da manhã o treino de Aikido ministrado por Bento e o da tarde de Jodo ministrado por Shikanai Sensei.

Como sou uma criatura noturna com hábitos semelhantes aos morcegos tenho enorme dificuldade em acordar cedo e tive que acordar mais que cedo para chegar antes das nove em Araras. O dia (23/07/2011) estava chuvoso aqui no Rio, ou seja frio e acordar as cinco da manhã com disposição para levar uma mala gigante e mais as armas foi difícil, muito difícil, mas fiz esse esforço. Minha bagagem estava especialmente pesada pois além do quimono tive que levar parte do meu equipamento de fotografia e um saco de dormir, esse saco de dormir salvou minha vida, o que deixou minha bagagem pesada. Nunca gostei de acampar e dormir em um saco no frio de Araras era coisa impensável para um mega carioca da gema como eu. Frio para um Homo-Sapiens-Sapiens-Urbanos-Tropicalis é coisa quase insuportável e frio de cinco graus é frio para valer!

Peguei carona com meu xará Rodrigo, que mora perto. Me encontrei com ele depois de ter sofrido um pouco para pegar um táxi, táxi em dia de chuva no Rio é coisa rara. Em seguida na cidade nova pegamos a Thaís (quebra ossos) e tocamos para Araras. Na Casa do Alemão nos encontramos com Gustavo que não conhecia direito o caminho e iria nos seguir, assim nos perderíamos juntos, uma vez que também não sabíamos o caminho, santo GPS que nos guiou pela estradinha para Araras.

O lugar do encontro pertence ao professor Bento e que lugar! Muito bonito no pé de uma majestosa montanha cercado de natureza por todos os lados. Chegamos uns vinte minutos antes de começar o treino. E lá fomos nós colocar os quimonos e começar o treino. Embora eu tenha melhorado muito meu Aikido, sempre tenho a mesma impressão nos treinos mensais de que sou um zero a esquerda. Sempre fico nervoso nos treinos mensais, afinal treinar com os mestres para mim é uma grande honra e fico um pouco apreensivo, depois vou me soltando, mas no começo estou meio duro e é difícil acompanhar as técnicas mostradas. O treino em si é magnífico, uma oportunidade de aprender e corrigir erros. Meu mestre Alberto é um grande professor, mas ter o olhar de outros mestres é importante, como uma segunda opinião de médico. Eles falam a mesma coisa que meu professor, mas de uma forma diferente e as vezes isso é necessário para ter aquele “insite”.

Assim que o treino acabou, o professor Bittencourt notou que algumas das lâmpadas do Dojo não estavam acesas. Logo me vi passando uma escada enorme pela janela do Dojo e fomos tentar fazer as lâmpadas acenderem, não sei o nome do corajoso que subiu naquela escada (um tanto frágil e velhinha), mas graças a ele tivemos um Dojo bem iluminado para o treino da tarde que se estendeu até a noite. Essas luzes iam fazer falta.



Encerrado o primeiro treino é chegada a hora do almoço. E que almoço! Fomos muito bem recebidos pelo professor Bento e sua esposa, embora a comida estivesse sensacional tentei não comer muito e nem bebi nada alcoólico pois ainda teria o treino da tarde. Devo dizer que o doce de abóbora que comi com um pedaço de queijo na sobremesa estava divino. Após o almoço nada como um descanso jogando conversa fora e foi o que a maioria fez, outros preferiram uma pestana. Ficamos conversando sobre Aikido, sobre a vida em geral ao pé da magnifica montanha que é visível nos fundos do Dojo.

O segundo treino foi inteiramente dado pelo Mestre Shikanai, quem não levou suas armas levou um puxão de orelha básico. Ainda bem que desta vez eu levei as minhas. O treino com o mestre Shikanai é sempre fantástico, ensinamento muito bom para a vida. Ele mostrou o porquê do Jo não ser usado com velocidade contra a espada, velocidade em um dos movimentos, pois a velocidade é necessária, mas nem sempre como a maioria pode supor. Só estando lá para entender isso. Mostrou uma espada cerimonial que é usada apenas como símbolo de nobreza e falou sobre seu significado.



Após este treino houve homenagem ao mestre Bento que vai ficar seis longos meses no Canadá. Agradecemos seus ensinamentos. Ele foi presenteado pelos outros mestres e pelo próprio Shikanai. Fiz minha parte fotografando este momento solene. Depois fomos para o bar do sítio, jantamos, bebemos (agora eu posso beber) , conversamos e comemoramos. Comemoramos os 25 anos do Tchozan Dojo. O bar é muito bonito, me remete a um filme. Móveis de madeira, incluindo o próprio bar com copos pendurados na parte de cima e seu balcão em “L” de madeira, tudo muito bonito. A esposa do professor bento foi homenageada e recebeu um presente do Aikido Rio, afinal ela merece por ter nos aturado e ter apoiado o Aikido em todos estes anos. Ainda teve um ensaio de leilão, o professor Bento leiloou um livro de Aikido de 1933! Livro maravilhoso escrito em japonês e inglês se não me engano pelo próprio Ueshiba e publicado pela editora do Dojo central. Um livro realmente raro que foi arrematado pelo Aikido Rio, ninguém tinha cacife para comprar sozinho esta obra.



Depois que o bar fechou um dos professores, eu não lembro o nome dele, chamou meu professor e eu para uma saideira. Ele disse - tenho uma vodka, mas só tem um copo – pensei um copo para três é pouco, mas dá para dividir, quando chegamos na cozinha ele tira de um saco uma garrafa ainda fechada de vodka e pega um copo dizendo – só tem esse copo – putz! Uma garrafa inteira só para nos três, não bebemos nem metade e o sono já se fez sentir. Também!



Fui para o meu saco de dormir e devo dizer, ainda bem que comprei esse saco. Eu estava de calça comprida, meias, tênis, camisa, um casaco daqueles com enchimento e por cima dele uma jaqueta de couro e mais um gorro de lã e ainda assim estava com frio. Para dormir só troquei a calça jeans por uma de moletom e tirei a jaqueta de couro, me embrulhei no saco de dormir e assim que bati a cabeça no travesseiro dormi que nem pedra. Na manhã seguinte acordei sendo puxado, o meu vizinho colocou um cobertor onde ia dormir e pôs o saco de dormir dele por cima desse cobertor, como o cobertor era grande de noite eu devo ter mexido e invadi o cobertor dele, que agora ele puxava de debaixo de mim. Foi bom, pois não fui o último a acordar.

Um bom café, as despedidas e descemos a serra. Vim de carona com Bittencourt. Eu, o seu aluno (o mesmo corajoso que subiu na escada) e Willian que treina comigo e é faixa preta. Eu e o aluno do Bittencourt ficamos no metrô da praça onze, ele seguiu para uma plataforma e eu para a outra, foi a última despedida do dia. Peguei o metrô, o trem e em Cascadura peguei um táxi para casa. Passei em frente ao Dojo de outro grupo de Aikido que tem em Cascadura e por incrível que pareça, tive vontade de treinar mais!

Cheguei em casa com a luzinha vermelha do Ultraman apitando. Almocei e deitei no sofá, ou seja desmaiei. Dali tomei banho e fui ver um filme no quarto, claro que não vi filme nenhum. Dormi até segunda-feira.

Posso dizer que valeu muito a pena acordar cedo no sábado e enfrentar o frio de Araras, foi uma experiência de vida e tanto. Aprendi muito e sei que meu Aikido vai melhorar por causa dessa experiência. Agradeço muito ao meu mestre Alberto e ao Sensei Shikanai por tudo o que tenho aprendido, agradeço também aos outros mestres pela paciência em treinar comigo. Posso dizer que neste ano e meio de Aikido minha vida melhorou muito em todos os sentidos e espero poder um dia contribuir para que outros possam ter essas melhorias em suas vidas.

Domo arigatou gozaimashita.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Estética da fotografia - Perda e permanência

Este livro é ótimo, da editora Senac escrito por François Soulages. Ele é simplesmente indispensável para quem quer se aprofundar no universo da fotografia como arte. Propõe e explica uma série de questões, como fotograficidade, transferência da não arte para a arte, referência, cópia, etc.

Acho que em geral os fotógrafos pensam muito em aspectos técnicos, que embora importantes são apenas o básico e o meio para se obter algo. Básico no sentido de que no mínimo o fotógrafo deve dominar a técnica e apenas o meio, pois não é o objetivo final do fotógrafo. Um bom fotógrafo já superou o domínio da técnica e pensa em sua arte como ela de fato é, ou seja arte.

É neste sentido que vejo esse livro como importante, pois ele aborda essa parte esquecida da fotografia e não aspectos técnicos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Capitalismo é Moral?

Apesar de eu poder responder a questão que dá nome ao livro de forma rápida e sucinta... Não! Ele esmiúça o significado de moralidade e mostra o motivo da amoralidade do capitalismo, para quem é mais alienado pode até parecer que tem haver com aquele papo batido de raivinha do sistema capitalista, mas na verdade a resposta passa longe disso. Não confundam amoralidade com imoralidade.

Em resumo, recomendo muito esse livro, que no momento tem me acompanhado no trem. Apenas pesquise bem antes de comprar, eu comprei por impulso e paguei caro, o preço dele varia em mais de quinze Reais.

"O Capitalismo é Moral?" autor: André Comte-Sponville

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Ichitami Shikanai

Neste último sábado (24/07/2010) tive uma oportunidade incrível, tive a honra de conhecer o professor, e muito mais que isso Shihan, Ichitami Shikanai. Shihan é um título dado para poucos, basta dizer que fora do Japão além do próprio Shikanai devem existir quatro ou cinco possuidores de tal título no mundo todo.

Comecei a praticar Aikido há pouco tempo, coisa de quatro meses, e nesse tempo devo dizer que minha saúde melhorou mil por cento, tenho muito mais disposição e fôlego, mas muito mais que melhorar fisicamente, melhorei como pessoa, tenho muito mais calma e me sinto mais sereno para enfrentar a vida. Meu mestre, que tem me ensinado muito, é o Professor Alberto, ele tem mais de trinta anos de Aikido e ainda é aluno de Shikanai. O que pode até ser estranho para quem é ocidental, mas no Budo em geral e talvez de forma mais forte no Aikido você sempre está aprendendo de forma constante, não existe esse negócio de virar faixa preta e pronto aprendi tudo, na verdade o aprendizado é para toda a vida.

Mestre Shikanai é de uma simpatia e humildade incríveis, treinei com ele e devo admitir que só fui me dar conta da importância do que estava ocorrendo quando sentado na mesa almoçando e tomando umas cervejas ao lado do próprio Shikanai ele levantou da mesa se ausentando por alguns minutos e outro professor que estava de frente para mim, disse – Eu levei dez anos para conversar com Shikanai como você está fazendo agora! Essas palavras fizeram minha “ficha” cair e cheguei a ficar emocionado. Sou uma pessoa de muita sorte, pois sempre que me dedico a fazer algo busco pelos melhores e tenho muita sorte de quase sempre conseguir acesso a essas pessoas, como foi no caso da fotografia em que conheci grandes fotógrafos e até no aeromodelismo. Sempre consigo ter acesso a pessoas que se destacam e faço isso de forma totalmente sincera, pois meu único interesse é aprender.

Agradeço muito ao meu professor, Alberto por ter me convidado para participar deste treino que só ocorre uma vez por mês e me proporcionou essa experiência que muito me ensinou.

Neste link tem um pouco da história do mestre Shikanai.