Em
um futuro não muito distante talvez tenhamos que lidar com a perda
do controle do conjunto de técnicas dominadas pela humanidade.
Por
exemplo, algum tempo atrás um fotógrafo dominava todo o processo da
fotografia propriamente dita, ou seja, ele sabia como a câmera era
construída, preparava sua própria emulsão, revelava suas chapas,
etc. Todo o processo necessário para se obter uma foto era de
domínio de qualquer fotógrafo. Nos dias atuais a técnica foi
terceirizada, esse foi o primeiro passo. A mesma técnica usada, no
nosso exemplo, pelo fotógrafo passou a ser de domínio de poucas
organizações ou grupos empresariais. Uma vez que esses grupos agora
possuem as técnicas iniciais elas foram se aperfeiçoando e a
técnica que antes podia ser dominada por uma única pessoa, agora é
tão complexa que necessita de um grupo grande de pessoas com
especializações diversas, que dominam apenas parte do conhecimento.
Esse foi o segundo passo, a impossibilidade do indivíduo dominar por
si a técnica. A técnica se torna abstrata. O terceiro passo foi a
internacionalização dessas empresas, uma vez que os processos de
fabricação extrapolam as fronteiras nacionais o conhecimento se
torna pulverizado.
Quem
tem mais de trinta anos e já teve a curiosidade de abrir um rádio,
sabe que antes era possível compreender, com um pouco de esforço, o
que cada componente fazia e era possível até inverter o processo,
ou seja, fazer engenharia reversa e obter outro rádio, se não
igual, ao menos funcional.
Hoje
isso já não é mais possível, nem mesmo para um excelente
engenheiro. Onde eu quero chegar? Dentro de alguns anos e no ritmo
atual de evolução, perderemos totalmente a possibilidade de
entender por completo qualquer tecnologia, tecnologia essa da qual
somos muito dependentes e ao mesmo tempo totalmente ignorantes. Em
caso de desiquilíbrios econômicos ou grandes tragédias é obvio o
impacto da perda desse conhecimento, mas o que vejo é que mesmo não
ocorrendo tais tragédias a perda do conhecimento humano é quase
irreversível. Dependemos cada vez mais de tecnologias que são
totalmente herméticas ao nosso saber e entendimento. Alguns anos
atrás um jovem trancado em seu quarto foi capaz de revolucionar a
informática com seu “computador pessoal”. Qual a possibilidade
de que algo assim volte a acontecer? Provavelmente nenhuma, as
máquinas atuais são de extrema complexidade e sua fabricação
depende de conhecimento pulverizado e inacessível, somente grandes
indústrias tem capacidade para lidar com a tecnologia.
O
avanço tecnológico em si é bom, mas creio que devemos manter a
tecnologia antiga ao menos funcional. Se antes a tecnologia era
criada e compreendida por poucos, hoje nem um premiado com o Nobel é
capaz se quer de reproduzir sozinho um simples rádio. Coisas
importantes para as gerações futuras devem ser preservadas para que
possam ser acessadas de forma simples. Quem sabe se daqui a cem anos
será possível abrir um arquivo JPG? Mas uma foto revelada no
processo antigo com certeza estará acessível em cem anos, o mesmo
ocorre com outras coisas. Quem garante que eu conseguirei executar um
MP3 em 2113? No entanto tenho certeza que um vinil ainda estará
funcionando perfeitamente até lá.
Adotar
o novo é necessário, mas como fazer isso sem ficar preso a algo que
não conhecemos? Como fazer isso de modo que se possa preservar para
as gerações futuras nossas histórias particulares como o papel, o
filme e outros meios menos modernos tem feito por várias gerações?
Afinal quem nunca perdeu coisas em seu HD?
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