domingo, 18 de maio de 2008

Globalização e Minha Mãe

Noutro dia minha mãe estava falando que minha tia que mora lá pro nordeste, não sei direito onde, estava vindo passar uns dias na casa dela. Ela vinha trazendo uma “menina” para trabalhar na casa de outra tia minha. Essa “menina” que não lembro o nome veio lá dos cafundós, na verdade um lugar que embora isolado é um verdadeiro paraíso.

Pois bem, minha mãe fez um comentário que de início achei ridículo, mas que me pôs para pensar. Ela disse – fiquei surpresa, a menina come com talheres e até mexe em computador! Quando ela disse isso meus ouvidos até doeram, mas pensando um pouco melhor. Vejo, minha mãe é anterior a essa tal de globalização, na época dela as pessoas tinham pouca instrução, não no sentido formal, mas de educação mesmo. Comer com talheres é algo que fazemos tem pouco tempo, até bem pouco tempo atrás educação era passada de pai para filho. Parece muito esquisito isso, mas devemos lembrar que ha bem pouco tempo às pessoas não tinham TV, rádio e muito menos computador. E quando falo pouco tempo, não falo de cem anos não, falo de cinqüenta, quarenta, trinta anos atrás.

Hoje em qualquer barraco de tábuas tem TV e o computador já é bem popular também, hoje você não aprende a cultura da sua família, não é a escolinha que passa o conhecimento, muito mais abrangente é o poder da TV, da internet. A maldita novela das oito educa muito mais que a família, os valores de certo e errado são “globais”, mesmo quando vemos aqueles documentários do Discovery sobre os aborígines no meio da Austrália, você pode reparar que a cultura deles é influenciada e muito, pelo “global”. Basta reparar nas calças jeans que eles usam.

Minha mãe tem setenta anos, ela ainda pensa como se pensava antigamente, numa época em que não existia toda essa “modernidade” e para ela é surpreendente que alguém que vem de um lugar tão isolado, longe da “capital”, tenha a mesma educação que ela, ou eu. Ela apenas não pensa de forma “globalizada”.

Muito do que aprendemos é igual, ou uniforme no mundo todo. Não sei até que ponto isso é ruim ou bom, pois por mais que se tente não se deixar influenciar, de uma forma ou de outra esses “valores” são absorvidos por todos. Uma coisa que eu odeio, mas que cada vez mais é norma se chama: “politicamente correto”. É impressionante como quando você assiste um pouco de TV, principalmente a Globo, todo mundo tem a mesma opinião, é tudo uniforme é como se existisse uma cartilha que todos tem que seguir de certo e errado.

Adoro ser politicamente incorreto, ser uniforme é bem temeroso, como uma ditadura invisível. Ora bolas! Antigamente quando se falava algo do governo ou de um político a pessoa era presa, torturada, expulsa do país! Mas não é bem mais lucrativo simplesmente não dar ouvidos ao que é dito? Ao invés de sentar o cacete no coitado que falou algo “errado” vamos apenas ignorá-lo. Assim podemos continuar roubando e pronto, muito mais fácil.

Minha mãe é de uma época anterior à globalização, naqueles tempos as pessoas eram muito menos “uniformes” do que hoje. Tem um lado bom na globalização, é claro, mas qual será o preço? Até que ponto essa igualdade, não no sentido poético da constituição americana, mas no sentido prático, talvez não do capitalismo, pois o socialismo busca a mesma coisa apenas de forma diferente, mas até que ponto isso é bom?

Para eu tudo isso soa muito falso, prefiro não ser politicamente correto e falar besteiras aos ouvidos alheios, mas que ao menos sejam as minhas besteiras, a minha forma de pensar. Não totalmente livre da influência “global”, pois vivo neste mundo! Mas, que pelo menos, não seja tão uniforme. Ter consciência de algo é o primeiro passo, não para se libertar, mas para ver o quanto somos escravos.

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