domingo, 27 de julho de 2008

Antecipação da Batalha


Sempre tive mais medo da antecipação do que do conflito em si. Toda a angústia e medo que se tem na trincheira, os sons e o cheiro da noite antecedendo o dia da luta. Isso sim é medo!

Nada pior que o medo imaginado, a imaginação humana é muito criativa, sempre se pode pensar no pior, mesmo quando algo ruim está por vir, à certeza deste castigo quase divino que antecede a realidade é algo muito mais aflitivo que a realidade em si. Amanhã encontrarei meus amigos no campo de batalha a luta será dura, mas sei que iremos sobreviver e tomaremos uns tragos falando das batalhas travadas. Isto sim é coragem! Viver todos os dias para enfrentar a morte no dia a dia. Sim, esta maldita antecipação da luta é muito mais cruel que a luta.

Amanhã é segunda-feira, de todos os dias odiosos o domingo é sempre o pior. Fico o domingo todo pensando na maldita segunda-feira. Amanhã a guerra recomeça. É impressionante o significado do trabalho, impressionante, mas não surpreendente o fato da palavra trabalho ter origem em castigo ou mesmo tortura. A palavra trabalho tem origem em um instrumento de tortura chamado tripaliu. Este instrumento era usado para castigar quem não tinha dinheiro para pagar impostos e só muito tempo depois é que a palavra trabalho começou a ser usada no sentido que conhecemos.

Hoje vou escrever pouco, pois amanhã tenho que acordar cedo.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Cadê o HAL?

Alguém lembra do HAL 9000? Aquele computador de “2001 uma odisséia no espaço”, do título em português. Pois então, cadê ele? Se eu não me engano já estamos passando de 2008 e até agora nada do HAL. Para quem não lembra o nome HAL vem de IBM, cada letra de HAL antecede cada letra da sigla IBM, se eu não me engano a IBM patrocinou parte do filme e naqueles tempos ninguém pensava em processamento distribuído e muito menos em computadores pessoais. A aposta não só da IBM, mas de todos, ou quase todos, os seus concorrentes era a centralização do poder computacional, a ponto de se acreditar que no futuro poucos computadores seriam suficientes para toda a humanidade. Nada mais errado como sabemos hoje.

Mas ao mesmo tempo aquela maravilha que era o HAL, um computador realmente pensante, autoconsciente, que dentre outras coisas tinha senso de humor. Tudo bem, ele matou todo mundo que estava na nave, mas isso foi culpa dos políticos por mandarem ele mentir. O coitado não sabia mentir e saiu matando a galera. Devemos lembrar, ao contrário do que se pensa mentir é algo inteligente, as crianças só começam a mentir a partir dos cinco anos e é claro o cientista criador do HAL não queria nele uma falha de caráter como a mentira. Tudo por causa desta moral platônico-cristã que vivemos hoje e nos ensina o que é feio ou bonito e ai temos essa idiossincrasia, de que o HAL não poderia mentir e acaba pirando e passando a régua nos astronautas do filme.

Tudo bem, tirando essa parte seria ótimo ter um braço direito como o HAL. Seria uma quase utopia, pelo menos enquanto ele não tentasse dominar o mundo. Não podemos nos esquecer também do Proteus de outro filme contemporâneo do HAL. Neste filme, no entanto o tal do Proteus (que tinha disquetes de oito polegadas!) acaba se revoltando mesmo! Ao contrário do HAL, em que a culpa das mortes foi dos políticos, o Proteus queria existir como o seu criador e acaba bolando um plano para fugir do seu gabinete. Ele pega a mulher do cientista (seu criador) e a insemina para ter um híbrido de máquina com humano. Coisa dos anos setenta estávamos a três décadas do politicamente correto.

Mas voltando ao HAL podemos perceber como muito do que foi prometido pela informática acabou em absolutamente nada. A inteligência artificial é até hoje incipiente. Nem reconhecimento de voz temos! A melhor tentativa foi da própria IBM com o Via Voicer e até onde sei foi descontinuado. O mesmo vale para o reconhecimento de escrita que teve na Palm com e seu Grafitti a melhor tentativa. Temos sim mais poder de processamento, mais resolução, mais velocidade e só. Desde a década de noventa nada realmente novo acontece.

Temos novidades, mas não o “novo”! Como aconteceu com a Apple e mais tarde com a internet e... só. O windows só é mais bonito, mas mesmo assim ele não acompanhou a evolução do hardware. A informática para quem é profissional da área é cada vez mais burocrática quase O&M. Perdemos muito com a homogeneização do software, isso de vivermos um mundo monoplataforma tirou boa parte da graça, da descoberta, da invenção. Ganhamos por um lado, mas perdemos muito também e acho que a maior perda foi o HAL. Sim, pois hoje não se pensa mais em interfaces inovadoras como seria o próprio HAL. Ao invés de mouse e teclado, seria uma conversa normal, bastaria pedir para ele o que se quer e pronto. Até existem iniciativas como estas, mas são recentes e até onde sei, tem muito pouco apoio da industria em geral. São tentativas isoladas e normalmente localizadas no meio acadêmico e simplesmente não funcionam. O próprio Via Voicer usava um algoritmo probabilístico ao invés de inteligência artificial.

A verdade é que essa interface clique-arraste ainda é predominante e sinceramente eu esperava mais. Afinal estamos em 2008! Nada de HAL, nada de carro voador, nada de colonização da lua, nada de dobra espacial! Daqui a pouco termina a primeira década do milênio e aquele futuro fantástico, dos filmes, continua apenas na ficção. Com exceção do derretimento das calotas polares, do fim da camada de ozônio, do desmatamento das florestas, todo resto ficou na ficção.